Chá de vermicomposto

1 Introdução

A aplicação de chás ou extratos aquosos é uma prática muito antiga na agricultura, que utiliza como matéria-prima compostos orgânicos ou estercos, e tem como finalidade controlar doenças ou pragas e fertilizar as culturas, principalmente, em cultivos sustentáveis. Tradicionalmente apresenta natureza empírica e a produção tem grande variação na composição, no preparo, no modo de aplicação, na dosagem e na frequência de aplicação, consequentemente, os resultados obtidos, muitas vezes, não podem ser reproduzidos.

Nas últimas décadas, com a popularização do processo de vermicompostagem, os resultados benéficos desse insumo como fertilizante favoreceu a produção do chá de vermicomposto, também conhecido como húmus líquido ou biohúmus, que tem sido o principal responsável pela divulgação do uso de chás na agricultura. Porém, apesar do chá de vermicomposto representar apenas uma das possibilidades de produção de chá, dentre os compostos orgânicos, foi com o uso desse que mais tecnologia foi agregada ao processo.

O chá de vermicomposto é uma solução aquosa, orgânica, de coloração escura, devido à grande quantidade de matéria orgânica coloidal em suspensão, obtida de vermicomposto maduro, rica em nutrientes solúveis, fitormônios — auxinas, citoquininas, ácido indolacético, ácido abscínico e giberelinas —, ácidos húmicos e fúlvicos, metabólitos estimuladores da germinação e do crescimento vegetal e elevada densidade microbiana.

O uso de chás naturais se difundiu muito nas duas últimas décadas, principalmente, nas áreas de cultivo orgânico, devido, inicialmente, à impossibilidade de utilização de agroquímicos. Nos Estados Unidos, países da Comunidade Europeia e da Ásia, os resultados são promissores e têm despertado o interesse de produtores orgânicos e pesquisadores em praticamente todo o mundo.

2 Vantagens do “chá de vermicomposto” em relação ao vermicomposto sólido

  • No processo de obtenção do chá, extraem-se e/ou se reproduzem alguns microrganismos que têm propriedades benéficas e/ou protetoras para as plantas;
  • O uso do chá evita a disseminação de plantas daninhas, devido à remoção das sementes durante o preparo;
  • O chá de vermicomposto pode ser aplicado em grandes áreas, por meio de sistemas de irrigação ou pulverização, diferente do vermicomposto sólido, que necessita ser incorporado ao solo;
  • Os custos de transporte e aplicação dos chás são menores, já os vermicompostos sólidos podem se tornar caros para serem transportados e aplicados em grandes quantidades.

Nesse sentido, a utilização do chá de vermicomposto não se limita ao segmento da agricultura orgânica e tem boa aceitação entre os produtores rurais convencionais. Atualmente, tem sido aplicado na agricultura em larga escala, viticultura, pomares, horticultura, viveiros, gramados, campos de golfe, paisagismo comercial e hortas.

Os resultados de pesquisa, relacionadas ao uso de chá de vermicomposto, vão além das finalidades básicas: adubação e controle de doenças, demostrando potencial para controlar pragas das culturas, estimular a germinação de sementes e o enraizamento de mudas.

No Brasil, a utilização de chá de vermicomposto, entre os agricultores, é pouco conhecida e praticada, e, por outro lado, os resultados das pesquisas ainda são incipientes, porém promissores.

 3 Cultivo de alface em sistema hidropônico com chá de vermicomposto

Dionísio e Andressa (2019) cultivaram as alfaces lisa e crespa em garrafas pet de 2 L, preparadas na forma de vasos Leonard, tendo como substrato a areia lavada de rio. O delineamento experimental foi inteiramento casualizado, sendo os tratamentos: testemunha — solução de Hogland e Arnon (1950) — e o chá de vermicomposto, com 10 repetições e renovação semanal.

As plantas foram colhidas aos 42 dias após à germinação das sementes e determinaram-se a matéria seca e o rendimento relativo em relação à solução padrão. Os resultados demonstraram que a utilização do chá de húmus de minhoca apresentou 80% do rendimento relativo da massa seca da parte aérea para os dois cultivares. Os resultados preliminares, ainda não publicados, demonstram o potencial de utilização do chá de húmus de minhoca em substituição às soluções tradicionais em cultivo hidropônico para a cultura da alface (Figura 1).

Figura 1 – Vista panarômica do cultivo das alfaces lisa (L) e crespa (C) em sistema hidropônico com solução de Hogland e Arnon (Testemunha) e o chá de vermicomposto (CVC)

4 Chá de vermicomposto no controle de doenças foliares

Edwards et al. (2011) realizaram um grupo de experimento para avaliar a eficácia do chá de vermicomposto aerado, por 24 h, nas dosagens de 5%, 10% e 20%, no controle de doenças radiculares e foliares do tomateiro (Solanum lycopersicum) e do pepino (Cucumis sativus), cultivados no substrato “Metro Mix 360”, sem solo, suplementado com a solução de Peters e inoculadas isoladamente com os seguintes patógenos: Phytophtora capsici, Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani e Pythium ultimum.

As estufas foram mantidas a 25 °C e mais de 75% de umidade relativa do ar, para fornecer condições ideais para a infecção pelos patógenos. Os resultados estão sintetizados na (Tabela 1).

Tabela 1 – Controle de patógenos radiculares e foliares em tomate e pepino, em função da aplicação de doses crescentes de chá de vermicomposto (5%, 10% e 20 %)

Os autores concluíram que os chás de vermicomposto foram muito eficazes na supressão de doenças foliares e radiculares das plantas, sendo que essas últimas são muito difíceis de controlar por meios químicos. Para garantir supressão satisfatória, é preferível usar dosagens de 10% ou 20%, pois o excedente cai no solo e também pode interferir nos patógenos radiculares. O uso de chás de vermicompostos pode multiplicar as populações microbianas do solo e epífitas, que podem suprimir os patógenos das plantas.

5 Chá de vermicomposto no controle de ácaros, afídeos e nematoides

Mistry e Mukherjee (2015) realizaram uma revisão dos artigos sobre os efeitos do chá de vermicomposto no controle de pragas das plantas. Concluíram que os chás de vermicomposto também suprimem, significativamente, a população de nematoides das raízes das plantas, aranhas, ácaros e pulgões.

As respostas das plantas podem ser devidas à produção de reguladores de crescimento de plantas, como ácido indolacético (IAA), cinetina ou giberelinas associadas a ácidos húmicos e fúlvicos presentes nos chás, que também atuam como reguladores de crescimento de plantas. Para controle de pragas e doenças, recomenda-se que seja aplicado concentrado (10% a 20%)

Referências

Arancon, N. Q.; Edwards, C. E.; Dick, R.; Dicket, L. Vermicompost tea production and plant growth impacts. Biocycle, Emmaus, v. 48, n. 11, p. 51-53, 2007. Disponível em: https://www.biocycle.net/vermicompost-tea-production-and-plant-growth-impacts/. Acesso em: 16 jul. 2020.

Edwards, C. A.; Niederer, A. The production of earthworm protein for animal feed from organic wastes. In: Edwards, C. A.; Arancon, N. Q.; Sherman, R. (Org.). Vermiculture technology: earthworms, organics waste and environmental management. Boca Raton: CRC Press, 2011. p. 323-334.

Mistry, J.; Mukerjhee, S. Vermicompost tea and its role in control of pest: A Review. International Journal of Advanced Research in Biological Sciences, Tamil Nadu, v. 2, n. 3, p. 111-113, 2015. Disponível em: https://www.academia.edu/43407792/Vermicompost_tea_and_its_role_in_control_of_Pest_A_Review. Acesso em: 13 jan. 2020.

 

 

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