Criacão de minhocas

1 Introdução

A criação de minhocas em substratos orgânicos é uma tecnologia que se utiliza dos conhecimentos e das observações do hábito alimentar desses animais na natureza, o que possibilitou a sua propagação pelos cinco continentes. As minhocas utilizadas em criações são originárias do solo, especialmente da camada superficial, na qual ocorre a deposição natural de matéria orgânica, representada principalmente pelas folhas das plantas das florestas nativas ou secundárias, dos campos ou das áreas de cultivo, destacando-se aquelas que deixam grandes quantidades na superfície do solo como é o caso do plantio direto.

De acordo com Bouchet (1977), as minhocas podem ser classificadas do ponto de vista ecológico em epígeas, anécicas e endogeicas (Figura 1) e quanto ao hábito alimentar, em: detritívoras e geófagas, que podem ser combinadas para melhor compreensão da atividade que desempenham no solo.

Figura 1 – Categoria ecológica de minhocas terrestres

O conhecimento prático dessas classificações permite que o minhocultor entenda as necessidades das espécies criadas em cativeiro, como também as limitações da introdução de determinadas espécies em áreas agrícolas, visando ao repovoamento do solo.

2 Categorias e hábito alimentar

 a) Epígeas/Detrítívoras

São essencialmente pequenas cavadoras, habitam a interface horizonte orgânico-solo, alimentando-se, principalmente, de matéria orgânica bruta, ingerem grandes quantidades de material vegetal sem decompor.

Constroem galerias na parte mineral do solo, que possuem caráter efêmero e são utilizadas em condições de diapausa — redução da atividade, geralmente provocadas por condições ambientais adversas, como redução de umidade e temperatura elevada.

Esse grupo possui pigmentação avermelhada, como exemplo as espécies Eisenia andrei, E. fetida, Eudrilus eugeniae e Perionyx excavatus, que são de interesse na vermicompostagem comercial. Além disso, apresentam respostas evolutivas marcantes, como altas taxas reprodutivas e elevada atividade metabólica, em função das variações das condições ambientais onde ocorrem.

Cabe ressaltar que esse ambiente é rico em oxigênio e ocorre deposição natural de matéria orgânica, representada por folhas caducas de florestas nativas ou secundárias, campos ou as áreas de cultivo agrícola, destacando-se o sistema de cultivo em plantio direto, que permite retorno ao solo de toneladas/hectare de matéria orgânica

 b) Endógenas/Geófagas

As representantes desse grupo têm pouca pigmentação, vivem em maior profundidade e se alimentam do próprio solo, de onde retiram a matéria orgânica, sendo o grupo funcional predominante nos solos. Diferentemente das espécies epigeicas, apresentam baixa taxa de reprodução e elevado investimento energético para a formação de descendentes (LAVELLE, 1984). Porém, a importância desse grupo está no processo de formação do solo, pela decomposição das raízes mortas, revolvimento e a formação de galerias, que promovem a aeração do meio onde vivem.

Geralmente, constroem galerias horizontais extremamente ramificadas, as quais são preenchidas com suas deposições, enquanto se movem pelo horizonte, ou seja, pelas camadas do solo. A esse grupo pertence um grupo de minhocas, entre elas, a minhoca mansa da terra ou minhoca massa rosa (Pontoscolex corethurus) e os minhocoçus.

c) Anécicas/Detritívoras

O grupo tem como característica alimentar vir à superfície do solo e consumir diversas fontes de matéria orgânica semidecomposta, serapilheira e estercos. Possuem pigmentação escura na parte anterior e dorsal do corpo e, no estágio adulto, podem atingir grandes tamanhos e apresentam baixa taxa reprodutiva.

Constroem galerias verticais, mais ou menos permanentes, que podem se estender por vários metros de profundidade, favorecendo a formação de um gradiente climático, protegendo o animal das condições adversas — alta temperatura e baixa umidade.

Algumas espécies depositam os excrementos dentro do solo, nas galerias, como Amynthas gracilis. Entretanto, outras espécies depositam os excrementos na superfície do solo, próximos à abertura das galerias, como Allolobophora longa, Lumbricus terrestris e minhocoçus.

3 Europa cria mapa da distribuição de minhocas no solo

Cientistas de oito países diferentes geraram o primeiro mapa, em grande escala na Europa, da abundância e diversidade de minhocas no solo, bem como mapas de distribuição de espécies cosmopolitas como Aporrectodea caliginosa e Lumbricus terrestris.

Referências

Bouché, M.B. Strategies lombriciennes. Ecological Bulletins, Stockolm, v. 25, p. 122‑132, 1977.

Lavelle, P. The structure of earthworms in tropical soils. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON EARTHWORMS WASTE AND ENVIRONMENTAL MANAGEMENT. 1984, Cambridge. Proceedings…Cambridge: [s.n], 1984.

Rutgers, M; Orgiazzib, A; Gardib, C; Römbked, J.; Jänschd, S; Keithe, A. M.; Neilsonf, R.; Boagf, B.; Schmidtg, O.; Murchieh, A. K.; Blackshawi, R. P.; Pérèsj, G.; Cluzeauk, D.; Guernionk, M.; Brionesl, M. J. J.; Rodeirol, J.; Piñeirol, R.; Cosínm, D. J. D.; Sousa, J. P.; Suhadolco, M.; Koso, I.; Kroghp, P. H.; Faberq, J. H.; Muldera, C.; Bogtea, J. J.; Wijnena, H, J.; Anton J.; Schoutena, A. J.; Zwarta, D. Mapping earthworm communities in Europe. Applied Soil Ecology, v. 97, p. 98-111, 2016.

 

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